A crença de que a vitamina C funciona como barreira contra gripes e resfriados atravessa gerações e se intensifica em períodos de mudanças climáticas ou surtos sazonais. Frutas cítricas, suplementos efervescentes e cápsulas dedicadas ao ácido ascórbico ganham destaque nas prateleiras com a promessa de blindar o organismo ou acelerar a recuperação de quem já está doente. Contudo, análises científicas recentes indicam que esse efeito preventivo ou terapêutico isolado não se comprova de forma consistente.
O que é a vitamina C e por que ela é necessária
Quimicamente identificada como ácido ascórbico, a vitamina C é solúvel em água, característica que impede o corpo humano de armazená-la em quantidade relevante. A reposição precisa ocorrer diariamente, principalmente por meio de alimentos como laranja, acerola, kiwi, morango, pimentão e brócolis. Entre suas funções metabólicas estão a síntese de colágeno, a participação em processos antioxidantes e o suporte ao funcionamento de células do sistema imunológico. Deficiências severas levam ao escorbuto, quadro raro hoje, mas que ilustra a importância desse micronutriente.
Como o sistema imunológico atua contra vírus respiratórios
A defesa contra agentes infecciosos se divide em dois grandes blocos. A imunidade inata representa a primeira barreira, formada por células e estruturas que reagem de modo amplo e imediato. Caso a invasão persista, entra em ação a imunidade adaptativa, responsável por produzir anticorpos e estabelecer memória imunológica. Para desempenhar essas funções, o organismo demanda energia, proteínas, minerais e vitaminas, inclusive a C. O fornecimento adequado desses nutrientes mantém as “equipes de vigilância” em condição operacional, mas não cria um escudo absoluto.
Evidências sobre prevenção e tratamento de gripes e resfriados
Diversos estudos observaram o impacto do consumo regular ou suplementar de vitamina C na frequência e na duração de infecções respiratórias. Metanálises divulgadas em bases internacionais, como o National Center for Biotechnology Information (NCBI), mostram resultados heterogêneos. De modo geral, pessoas que ingerem doses suplementares acima das recomendações diárias não apresentam redução significativa na incidência de gripe ou resfriado.
Em relação ao tempo de doença, alguns ensaios indicam diminuição modesta na duração dos sintomas, em especial entre indivíduos submetidos a esforço físico intenso ou expostos a condições extremas de temperatura. Fora desses grupos, a diferença é considerada estatisticamente pequena e clinicamente discreta. Portanto, a ciência disponível até o momento não respalda a ideia de que a vitamina C funcione como terapia capaz de interromper rapidamente o curso da infecção.
Riscos de megadoses e limites de segurança
A ingestão recomendada para adultos varia de 75 a 90 miligramas ao dia, de acordo com autoridades de saúde internacionais. Complementos que superam muito esse patamar podem ocasionar efeitos gastrointestinais, como diarreia e cólicas, além de aumento do risco de cálculos renais em pessoas predispostas. Assim, o uso de doses elevadas não traz ganhos comprovados contra resfriados e ainda pode gerar desconforto ou complicações.
Importância de hábitos abrangentes
A manutenção da imunidade depende de um conjunto de medidas. Alimentação variada, sono adequado, prática regular de atividade física, hidratação e controle do estresse formam a base de sustentação. Dentro dessa rotina, a vitamina C atua como um dos elementos que viabilizam processos estruturais e enzimáticos, mas não substitui a necessidade de equilíbrio geral. Concentrar expectativas em um único nutriente pode levar a comportamentos de risco, como negligenciar vacinação, higiene das mãos ou cuidados médicos apropriados.
Orientações para o consumo
Especialistas sugerem priorizar fontes naturais da vitamina, pois frutas e vegetais entregam o micronutriente em conjunto com fibras e outros compostos bioativos. Quando a dieta não cobre as necessidades diárias, a suplementação orientada por profissional de saúde pode ser útil, sobretudo em populações com dificuldade de acesso a alimentos frescos ou em condições clínicas específicas que comprometam a absorção.
Em resumo, a vitamina C é indispensável ao bom funcionamento do organismo, porém não configura solução autônoma para evitar ou tratar gripes e resfriados. Evidências científicas apontam benefício limitado e dependente de contexto. A prevenção dessas infecções continua ligada principalmente a medidas como vacinação, higiene adequada e estilo de vida saudável.