A Nokia iniciou conversas com potenciais parceiros industriais para a produção de smartphones em larga escala. A movimentação ocorre a pouco menos de dois anos do término do contrato de licenciamento com a HMD Global, responsável pelos telefones da marca desde 2016 e com vínculo vigente até 2026.
Fontes do setor indicam que a companhia procura um fabricante capaz de assumir a montagem, a distribuição e parte do desenvolvimento de novos aparelhos. O modelo de negócio permaneceria baseado no licenciamento da marca e de tecnologias, sem a retomada da produção direta pela Nokia, como acontecia antes da venda da divisão de dispositivos móveis à Microsoft, concluída em 2014.
Estratégia de continuidade
O objetivo central da busca por um novo parceiro é ampliar a escala de fabricação e a presença global da linha de celulares. A expectativa é que a colaboração traga maior capacidade logística, novas abordagens de design e estratégias de marketing ajustadas aos diferentes mercados, fatores considerados essenciais para aumentar a competitividade frente às grandes fabricantes do setor.
A Nokia Technologies — divisão responsável pela gestão de licenças e pelo extenso portfólio de patentes da empresa — conduzirá o processo de seleção e supervisionará a qualidade dos futuros produtos. A área atua como guardiã dos padrões históricos associados à marca finlandesa, garantindo que os aparelhos licenciados sigam requisitos técnicos e estéticos preestabelecidos.
Histórico recente
Durante a década de 2000, a Nokia liderou o mercado mundial de celulares. A mudança de cenário após a popularização dos smartphones levou à alienação da divisão de dispositivos para a Microsoft. A partir de 2016, a HMD Global passou a utilizar a marca em smartphones e feature phones, adotando o sistema operacional Android e preservando elementos clássicos apreciados por consumidores, como design robusto e interface limpa.
Apesar do reconhecimento do nome, a participação de mercado permaneceu discreta nos últimos anos. Levantamentos do primeiro trimestre de 2024 não relacionam a Nokia entre os cinco maiores fornecedores globais de smartphones, posição que continua dominada por Samsung, Apple, Xiaomi, Oppo e Vivo. Analistas avaliam que o desempenho limitado estimula a busca da Nokia por um fabricante com maior escala e portfólio de hardware mais abrangente.
Situação no Brasil
No mercado brasileiro, a presença da marca é modesta em comparação ao auge alcançado até o início dos anos 2010. A HMD Global introduziu modelos como Nokia G21 Plus, Nokia C21 Plus e o feature phone Nokia 105, mas a oferta concorre com linhas de entrada e intermediárias de concorrentes que dispõem de produção local e forte rede de assistência técnica.
Segundo distribuidores, o apelo nostálgico ainda atrai consumidores em busca de aparelhos simples ou de smartphones com experiência Android próxima ao padrão do Google. No entanto, preços acima da média do segmento de entrada e a limitada disponibilidade em canais físicos dificultam a expansão da marca no país.
Próximos passos
Com a aproximação do encerramento do contrato com a HMD Global, a Nokia pretende definir o novo parceiro antes de 2026 para evitar ruptura de linhas de produção e garantir continuidade ao portfólio. O cronograma previsto contempla negociações durante 2024, formalização de acordos em 2025 e início de fabricação simultâneo ou posterior à conclusão do vínculo atual.
Os termos exatos do futuro contrato não foram divulgados, mas a tendência é manter o modelo de licenciamento, em que o parceiro fabrica e comercializa os dispositivos, enquanto a Nokia concede o uso da marca e provê acesso a patentes essenciais, incluindo tecnologias de rádio, design industrial e soluções de software.
Além de smartphones, a empresa avalia licenciar a marca para produtos complementares, como tablets e acessórios conectados. A iniciativa faz parte da estratégia de reforçar a presença no ecossistema de dispositivos, no momento em que a companhia concentra seus negócios principais em equipamentos de rede 5G, soluções para provedores de serviços e projetos de infraestrutura governamental.
Cenário competitivo
O mercado global de smartphones permanece concentrado em poucas empresas com alta capacidade de fabricação e marketing. Para competir, especialistas apontam que a Nokia precisará alinhar preços, desempenho de hardware e ciclo de atualizações de software aos padrões praticados pelos líderes do segmento.
Caso a nova parceria se concretize, o relançamento de aparelhos sob a marca Nokia poderá beneficiar-se do reconhecimento construído em décadas de atuação. O desafio será transformar a lembrança positiva dos consumidores em participação real de mercado, equilibrando tradição e inovação em um setor marcado por lançamentos rápidos e margens reduzidas.
